sexta-feira, 9 de maio de 2008

Servindo um café

Antes mesmo dos primeiros raios do nascer do dia, já o aroma quente e gostoso do café perambulava solto pela casa, pondo todos, num acordar, embora preguiçoso, de muito gosto. Especialmente em dias como aqueles de um friozinho malemolente. A casa cheia pedia sempre farto café-da-manhã, daqueles de fazer estômago virar um faminto e esmerado roncador. De um colorido encantador, alimentava-se logo os olhos com um prazer único causado pela beleza da mesa posta num evidente cuidado e carinho de quem gosta do que faz. Frutas, queijos, pães frescos, geléias, biscoitinhos e, claro, o café preto e pronto depois de despertar o povo com seu perfume fervente. Um misto desejado de cores e formas cheirosas. Devorá-lo todos os dias era fácil; difícil era por ventura estar em lugar distante de seu endereço e não recordá-lo com uma saudade de um tanto a desfazer o costumas bom apetite. Não era desmerecimento aos feitos alimentícios matinais estranhos àquele; parecia mesmo é que o olfato exigente e o estômago mal acostumado faziam birra quase infantil e involuntária numa batalha com um cérebro carente de mastigação. Por fim, a boa educação mandava degustar o café estranho, mesmo que o comparando ao absolutamente incomparável. A plena satisfação era algo distante, mesmo que se chegasse a desagradável sensação de barriga pesada e esticada por comer além do que o organismo necessita. Aquele café ia além de um simples ato para saciar necessidade de um ser humano. Dava a impressão de que junto com cada pedacinho de pão amanteigado e molhado a goles do café, engolia-se também uma boa dose de afeto, a qual deslizava afagando a alma e culminando com a deliciosa sensação de ter por sobre si um olhar doce e materno; quase uma benção protetora, sem a qual era difícil sair de casa.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Idéias em ebulição

Assim como resolvo andar de pés descalços quando estou em casa, decidi materializar e compartilhar os vários resultados de minhas muitas noites insones. Por isso, a iniciativa do Tampa de Chaleira, cujo nome também é oriundo de horas e horas num embolar enfadonho na cama.

Há mentes deliciosamente criativas e inteligentes o suficiente para escolher o período diurno para produzir. Eis que a minha tem a mesma atração que eu por superar dificuldades e escolhe a madrugada para manifestar toda sua ebulição de inquietações, pensamentos, devaneios e vontade de expressão. Concluo, então, que meu maior desejo é o de não precisar dormir e dar conta, tranqüilamente, de minhas atividades como empresária e como uma serelepe metida a aprendiz da arte de combinar palavras. Com isso ando apenas sonhando... Acordada, é claro!

A união de uma chaleira com água fervente representa, em minha visão lúdica, um cérebro ativo com um borbulhar de idéias quase ininterrupto de fazer a cabeça até doer caso elas não se organizem. Desse processo de fervura resultam as idéias; ou uma água muito quente, o vapor proveniente dela e gotinhas maravilhosamente acolhidas pela tampa da chaleira. Minha atenção está nas gotinhas do transpirar da tampa da chaleira, que representam o mais ourudo resultado da inspiração expressada, já que muito do que é conseqüência do processo criativo de uma pretensa produção literária se esvai assim como o vapor quente da água.

O vapor que volta a se liquefazer; assim como nossas experiências, leituras e observações podem retornar através de palavras ordenadas e carregadas de significados para serem apreciadas, assimiladas, questionadas, e, de novo, serão passíveis de análise e possíveis fontes de inspiração... Como as gotinhas transpiradas numa TAMPA DE CHALEIRA.